Liberalismo e socialismo


LIBERALISMO


No sentido político o uso da palavra “liberalismo” foi empregado, no início, como a oposição ao sistema monárquico. Era uma idéia motivada pelos monarcas opositores ao liberalismo que queriam vincular esse movimento a um reformismo perigoso e licenciosidade.
Com o tempo, o liberalismo vai se confundindo com diversos movimentos e partidos de toda a Europa e até mesmo no mundo. A conclusão mais acertada é que o liberalismo é decorrente de uma inevitável superposição de ideologias, ou seja, não existe uma teoria legitimamente liberal, assim como os temas liberais não são inequívocos.
Como o autor nos ensina, muitas vezes idéias vinculadas ao liberalismo como, por exemplo, as idéias sobre liberdades e direitos individuais, consentimento, separação das esferas públicas e privadas, contrato, governo limitado e moderado e soberania popular foram derivadas de fontes não necessariamente liberais. Logo, podemos afirmar que, conforme as palavras do autor, “o liberalismo é a mais complexa” das ideologias políticas modernas. Contudo, de forma simplista, o liberalismo pode ser considerado como a ideologia do capitalismo.

A)    Natureza Humana para o Liberalismo
Fruto dessa indefinição de qual é a visão liberal do mundo, o único conceito que figuraria com consistência na discussão liberal seria o de “individualismo”. Segundo a teoria “o indivíduo é mais real que a sociedade e a precede”. Em resumo, o fato de uma pessoa ter seu valor igual e individual possibilita o igualitarismo.
Todavia, esses conceitos de individualismo e igualdade não podem ser avaliados como concepções consensuais dentro da ideologia liberal. Aliás, existe uma proximidade ao consenso no fato de que o individualismo racional é inexeqüível, tanto para o liberalismo clássico quanto para o moderno.
Para os clássicos o indivíduo é compreendido como sozinho, encerrando em si mesmo, estando ”confinado na sua própria subjetividade”. Em tese liberal o indivíduo é dono de sua própria individualidade, capacidade e corpo logo não deve consideração a sociedade sendo seus desejos e interesses soberanos. A razão é o instrumento para esse julgamento do limite dos desejos e interesses individuais.
Para autores como Rand, uma vida racional consistiria na busca do egoísmo puro por cada indivíduo. Ou seja, interessa-se unicamente por si. Sendo o único propósito do homem sua auto-realização, seria pervertê-la sacrificar pelos outros ou por essa instituição fictícia, denominada sociedade. Sendo o capitalismo o único sistema que permite a maximização desse gênero de vida.
Já para o liberalismo alemão, representado aqui pelo autor von Humboldt não existia a possibilidade de interferência do Estado alemão na vida e no bem-estar do cidadão sendo essa intervenção permitida apenas como proteção contra os estrangeiros.
Dessas diversas concepções da teoria liberal, modernamente surge um conceito denominado utilitarismo sendo base da nova tendência denominada neo-liberalismo. Segundo esse conceito o indivíduo busca sempre maximizar sua satisfação através da realização de seus desejos e interesses que de certa forma são racionais. Entretanto, um erro filosófico nesse conceito foi a não identificação dos limites para a razão. Para J. S. Mill os limites eram dados por convenções e para Hayek as tradições morais e sociais constituem a individualidade. Ainda segundo Hayek essa individualidade poderia estar harmonizada com o conceito de comunidade.
Concluindo, pelo estudo do texto, percebemos que o conceito de “individualismo” e “coletivismo” não são entidades claras e resolvidas dentro da teoria liberal, pelo contrário ela possibilita a análise desde a total ausência de intervenção estatal até a aceitação moderada. Certo é que não há um conceito vigente dentro da teoria liberal sobre o que vem a ser vida social.

B)    Igualdade e Liberdade para o Liberalismo
“A liberdade é o valor crucial para os liberais”, assim inicia o capítulo sobre o valor da liberdade o autor, Andrew Vincent. Contudo, assim como notamos na parte anterior sobre “a natureza humana”, o conceito de liberdade não é unitário dentro da teoria liberal. Mesmo a crença na liberdade não é constante dentro da teoria.
A literatura liberal clássica prega que o indivíduo é livre quando desprendido de coação e não reprimido. Aqui o Estado aparece como agente capaz de coagir e reprimir, logicamente sendo uma instituição prejudicial à liberdade básica.
Importante frisar, que como cita Hayek, liberdade não está associada à crença de se sentir livre. Uma capacidade ou força pode propiciar liberdade, mas não é sinônimo de liberdade.
Simplificando a análise do texto percebemos que a igualdade, para os liberais, é fundamento baseado em duas fontes. A primeira é o individualismo, já que a partir do momento que a pessoa tem sua individualidade e valor igual perante a sociedade ela é considerada igual. O segundo como apontamos é a liberdade permitindo ao indivíduo fazer sua escolha independente de qualquer repressão
Um ponto importante de se apontar, que será explicado detidamente mais a frente, e a questão da propriedade associada à liberdade. Para os liberais a propriedade é uma extensão dos direitos do corpo.
Um conceito muito analisado pelos teóricos liberais, e de difícil compreensão na prática, foi à repressão tendo o Estado como agente principal. A repressão é entendida pelos liberais como impedimento de realização de algo que garante a liberdade individual, fatos que exemplificam isso são a defesa da liberdade individual de culto, discurso e as liberdades sociais. Notamos que já existia para os liberais a figura da repressão como um subterfúgio legal, sendo divididas entre justificáveis e injustificáveis.
Já quanto a igualdade o liberalismo clássico desenvolveu uma interpretação formal.  A desigualdade surge como processo natural e conseqüências impessoais. Já a igualdade é dividida em econômica – sendo o acesso a todos os mercados, e a civil – sendo o acesso a todas as leis. Um cuidado a ser tomado, de acordo os liberais é a distribuição de riqueza realizada pelo Estado, como o falso igualitarismo.  Contudo, para muitos liberais clássicos a busca da igualdade essencial conduz sempre a coerção e a intimidação do Estado. Apesar da critica é evidente que a igualdade eqüitativa está em lugar de destaque na teoria liberal.

C)    Economia e Propriedade para o Liberalismo
Sendo o liberalismo, a ideologia do capitalismo, a propriedade privada figura para esse pensamento como o panteão liberal de valores.  Este conceito está intrinsecamente associado ao conceito de liberdade explicado anteriormente. Segundo Hayek a propriedade privada é a personificação da liberdade individual.
Já para a igualdade econômica um fator essencial é a liberdade de todos obterem lucros desde que não impedissem o outro de o ter. Isso é o fundamento básico para a defesa da liberdade de mercado que os liberais fazem. Apesar das diferentes interpretações.
Para os liberais a economia está intimamente ligada as paixões de cada indivíduo. A questão é como lidar com essas paixões. O valor do livre comércio está justamente na capacidade de controlar as paixões exacerbadas.
Paulatinamente, o termo “paixão” foi sendo substituído por “interesses” que se tornaram interesses econômicos e gerava o enriquecimento. Muitos liberais, até de forma inocente, consideravam os comerciantes pacíficos e inofensivos, e como o próprio autor salienta, “acreditavam que o espírito da conquista seria substituído pelo do comércio”. De certa forma seria uma visão simplista por analisar os comerciantes sempre com o interesse pela concorrência e não estipularem que a busca de qualquer comerciante é o monopólio.
Para esses desvios, a correção seria dada pelo próprio mercado, ou seja, de  certa forma existiria um controle dos eventos fato que não possibilitaria o monopólio.
A título de conclusão percebemos que na teoria liberal tanto a economia de livre mercado quanto a propriedade privada geram as virtudes cívicas responsáveis condição essencial para a igualdade.

SOCIALISMO


A gênese da palavra socialismo está associada à idéia legalista de contrato consensual entre os homens livres. Para alguns teóricos esse contrato estava além dos limites do Estado e fundamentava-se no conceito de política. Mas para os teóricos do sistema era possível discernir entre política e social. Ou seja, acreditam que a política não se basta é preciso agregar a ela aspectos sociais.
Um outro sentido da palavra socialismo está associado ao sentido de camaradagem entre os indivíduos da sociedade. De certa forma isso foi uma tendência de contra ponto a teoria individualista liberal. Para essa corrente a idéia de povo soberano sendo sua vontade digna se ser respeitado.
Então podemos perceber que assim como ocorre no liberalismo não existe uma teoria única para o socialismo.

A)    Natureza humana;
Quanto a natureza humana percebemos que os pontos que explicamos a título de introdução é a base do socialismo. Ou seja, o indivíduo tendo sua abre a mão de sua individualidade por uma entre seus pares. Em outras palavras os socalistas tendem a ver as raízes da natureza humana na vida social.
De certa forma os socialistas tem uma visão otimista do desenvolvimento dos seres humanos. Em tese os seres humanos podem a desenvolver-se e aprimorar-se. Independente da origem, sexo, classe e raça.
Com base no que explicamos surge duas correntes que teorizam a respeito desse desenvolvimento humano. A primeira rejeita a tradição e as “crenças e que a natureza humana pode ser modificada, controlada e reconstruída “através do uso da razão e das circunstâncias apropriadas. O socialismo aparece para essa teoria como algo racional modernizador.
Uma outra teoria de fonte mais romântica e humanista nos ensina que “os homens não podem simplesmente ser reconstruídos a partir de circunstâncias materiais”. Ao contrário, devem ser persuadidos e educados para identificar as verdades morais. Logicamente, segundo essa corrente, isso não será feito partindo do vazio. Contrariamente, o homem é fruto da tradição do passado e não se moderniza apego ao status anterior.
O ponto crucial para a compreensão da natureza humana nos socialistas é a busca da real estrutura interna da natureza humana. Fato que atenderia a compreensão dos mínimos desejos humanos.
Uma outra questão muitas associada ao socialismo é os valores da cooperação, camaradagem, fraternidade e comunidade. Isso é fruto da convicção de que os homens são seres cooperativos e a sociedade precede o indivíduo. Diante disso percebemos que o socialismo  é nitidamente um sistema baseado em comunidades.

B)    Igualdade e liberdade;
A igualdade econômica para os socialistas            é ponto de discordância entre os fabianos e os marxistas. Essa diferença está fundamentada na questão da distribuição. Os fabianos não aceitavam o fato de determinismo histórico, ou seja, que tudo dependia do estágio histórico da economia e de sua produção. Acreditavam na ação do governo e na distribuição de recursos em bases de eficiência econômica nacional. Os marxistas conferiam pouco valor teórico à distribuição via Estado.
A igualdade social por outro lado pode ser considerada o principal valor socialista, contudo não é um valor unívoco na ideologia socialista. A diferença entre igualdade e liberdade é um dos pontos apontados pelos críticos do socialismo. Para eles, defender a liberdade é negar a igualdade e vice-versa. Contudo a concepção socialista de liberdade é uma idéia perfeitamente viável e não conflita necessariamente com a igualdade enquanto noção condicional.
Antes de tudo, e em resposta aos críticos, os socialistas se mantêm fiéis às convicções que a igualdade deve ser buscada. E essa igualdade deve ser feita a partir das proximidades e não das diferenças.
Importante notar que para os socialistas a igualdade como meta não deve ser associada com a igualdade de condição. Assim essa teoria defende que a igualdade pode ser uma condição ou oportunidade de desenvolvimento dos seres humanos, o chamado igualdade como “ponto de partida”. Essa concepção de igualdade é mais compatível com a liberdade do que a “igualdade enquanto uma meta”.
Os meios para se atingir essa igualdade são muitos e variados. Certamente a nacionalização tem sido um dos mais adotados. Por outro lado os socialistas tem propostas para a igualdade a partir de uma economia de livre mercado, como por exemplo a tributação progressiva, os benefícios previdenciários e o salário mínimo.

C)    Economia e propriedade.
Com relação à economia existem variações da teoria socialista para a oposição ao livre mercado e ao capitalismo.
O arquétipo da propriedade para os socialistas é o controle coletivo total e a propriedade de uma indústria pelo Estado.  Também podia significar controle das principais indústrias, bancos e companhias de seguro de uma economia. Só por isso já existiria larga margem para um setor privado.
Importante apontar que a existência de qualquer sistema não impede o mercado de se desenvolver, seja por meio legais ou ilícitos. Exemplos mostram que mesmo na antiga União Soviética existia um crescente mercado que florescia mesmo por meio informais.
Visto de uma forma utópica o socialismo tinha uma visão antipolítica da natureza. Autores como William Morris e Charles Fourier apontam para um futuro não-industrial, não-estatista, comunal e pastoral. Nessa forma de propriedade o trabalho tornaria um prazer estético e sensual.
Neste século os socialistas têm consentido com o desenvolvimento industrial, mesmo que a partir de um ponto de uma mistura entre público e privado. Uma outra proposta socialista atual é o controle de preços, salários e o bem-estar social.
E um conceito em voga nos últimos tempos é a reconsideração dos socialistas para o mercado, desde que esse fosse desassociado do capitalismo. A idéia defendida é que o poder seja amplamente distribuído entre a sociedade tirando o interesse do capitalista como o principal e que os trabalhadores e consumidores sejam levados em conta. E ainda o planejamento continuará existindo com um caráter esclarecedor e não intervencionista.
Concluindo, diante do apontado, percebemos que o socialismo não é um sistema de negação do mercado e de nacionalização indiscriminada e que existe variações para a análise desses temas relacionado ao socialismo.



Bibliografia
Vicent, Andrew.  Ideologias Políticas Modernas.  Rio de Janeiro: Joge Zahar Ed.., 1995.

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