Cidadania no Brasil:
As fontes do Clientelismo
Chegando aos quase 180 anos de história de
independência brasileira percorremos um longo caminho com muitos esforços para
a construção do cidadão brasileiro. Chegamos até agora com a sensação de não
termos completado tal trajeto com o sucesso merecido. Existem progressos
claros, porém esses não ocultam a grandiosidade do caminho a ser percorrido.
Sobram em nossas cidades indíviduos abaixo da linha da pobreza, desempregados,
analfabetos, semi-analfabetos, vítimas da violência particular ou oficial.
Nesse processo, o mais lamentável é a derrota da democracia como a solução
rápida para esses problemas.
Podemos alegar que um dos motivos para essa derrota é
o rumo em que as evoluções aconteceram no Brasil. No nosso país os Direitos
Sociais (aqueles que garantem a participação na riqueza coletiva), puxaram a
fila dos demais direitos, implantados em um período de supressão dos direitos
políticos e da redução dos direitos civis por um ditador que se tornou
posteriormente conhecido como o “pai do pobres”.
Em seguida, apareceram os Direitos Políticos (participação
no governo) de maneira atabalhoada, visto que a maior expansão do direito ao
voto aconteceu em um período ditatorial, em que os órgãos de representação
políticas foram transformadas em peça decorativas do regime.
Por derradeiro, apareceram os Direitos civis (fundamentais
à vida: liberdade, propriedade, igualdade perante à lei) mas que ainda é um
grande desconhecido para a maior parte da sociedade. Basta conhecermos os dados
de acesso à justiça. Esse é o fator de ausência mais gritante na democracia
brasileira. Diante disso, surge uma questão chave para nosso futuro. Quais
podem ser as consequências, para o problema da eficácia da democracia?
Neste momento nos interessa analisar a valorização do
Poder Executivo no Brasil. Como vimos anteriormente, os direitos sociais foram
implantados em períodos ditatoriais, em que o Poder Legislativo
ou estava fechado ou era meramente decorativo. Daí, percebemos que para o
grosso da população existe a imagem da centralidade do Executivo. O governo, personificado
na figura de seu dirigente maior, aparece como o ramo mais importante do poder,
aquele do qual vale a pena aproximar-se.
Essa tradição nada mais é do que resquícios da cultura
patrimonialista portuguesa e ibérica. Fato comprovado pela vitória do
presidencialismo sobre o parlamentarismo no plebiscito de 1993. Aqui no Brasil,
o Estado é sempre visto como “o todo-poderoso”, na pior das hipóteses como
repressor e cobrador de impostos e na melhor, como um distribuidor partenalista
de empregos e favores. A negociação política nessa visão é, sobretudo,
orientada para a negociação direta com o governo, sem passar pela mediação da
representação.
A ausência de ampla organização autonôma da sociedade
faz com que os interesses coorporativos prevaleçam. A representação política,
nessa história, não funciona para resolver os grandes problemas da maior parte
da população. O papel dos legisladores reduz-se, para a maioria dos votantes,
ao de intermediário de favores pessoais perante o Executivo. O resultado, e a
conclusão, desse ciclo é perversa: os eleitores desprezam os políticos, mas
continuam votando neles na esperança de benefícios pessoais.
A correção para esse processo é a inversão da ordem
de prioridade dos direitos e o exercício continuado do direito político. Tal
fato permite aos poucos ampliar o gozo dos direitos civis, o que por sua vez
poderia ampliar os direitos políticos, criando um círculo virtuoso no qual a
cultura política também se modificaria.
Baseado
no Livro Cidadania no Brasil: o longo caminho de José Murilo de Carvalho
Oi Rafael,
ResponderExcluirEstive pensando sobre a educação, aquela formal mesmo,que educa para passar no vestibular, sem críticas ou questionamento e o que fica é essa impressão que somos educados para ser alienados.
Hoje a maioria das pessoas estão conectadas com os games e esquecem que a vida é aqui fora.
Oi, Filó. De fato, a educação no nosso país deixa muito a desejar. Estava lendo hoje sobre isso. Era uma reportagem na Carta Capital dizendo sobre o quantitativo e o qualitativo de nossa educação. Em ambos estamos muito abaixo dos índices mundiais. Por exemplo, a relação professor por aluno é baixíssima, em todos os níveis. Qualitativamente as notas tiradas por estudantes nas comparações internacionais também deixam muito a desejar. Enfim, o que ocorre é que não fazemos nada bem, nem mesmo o ensino para o vestibular/formação para o trabalho, muito menos para a cidadania. Isso é muito triste e um suicídio para nossa nação, pois a desigualdade não pode ser quebrada e as pessoas não partem de condições semelhantes. Grato pelo comentário.
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