"É possível conselhos tão
diferentes encontrar aquilo que é comum?": um olhar sobre a
construção da Interface em Conselhos Nacionais
A criação e
implantação dos conselhos de políticas públicas ocorreu após a promulgação da
Constituição federal de 1988. Eles foram um dos instrumentos utilizados para
romper com o padrão decisório que marcava o Estado brasileiro até então. Os
atores da sociedade civil acreditavam nesses espaços no sentido de fortalecer a
intervenção estatal com o intuito de garantir direitos. As diversas expressões
desses direitos dialogam com o paradigma da universalização e da integralidade
das políticas públicas.
Os atores da
sociedade criam, também, na possibilidade de construir uma forma de atuação do
Estado mais inclusiva, fruto da constituição de um interesse público que
representasse a visão de diferentes setores da sociedade. Essas duas frentes,
fortalecimento da intervenção estatal e construção do interesse público, são
produtos históricos do período que influenciou a Constituição Federal, bem como
fundamentou a criação das instâncias participativas. Ambas permitiriam que as
ações do Estado fossem realizadas de maneira integral. Essa noção é uma busca
permanente para a atuação das instâncias decisórias, no sentido de minimizar as
contradições e tensões que existam na execução das ações públicas.
Esse conceito
de integralidade é um desafio para pensar as políticas públicas e, por
consequência, para compreender a regulação da vida em sociedade realizada pelo
Estado. Essa noção, por sua vez, deve ser entendida em duas perspectivas que se
complementam. A primeira busca como ideal a apreensão de forma integral da
temática analisada. Para tanto, o campo de atuação da política pública abarca
diferentes perspectivas que somadas podem chegar à riqueza necessária para a
construção da ação do Estado. Essa é uma dimensão dialógica na qual os espaços
públicos resolvem parte desse desafio, mas cabe a interligação com outros
locais de discussão e espaços de conhecimento acerca do assunto para que novos
aportes e outros saberes sejam incorporados.
A outra
dimensão diz respeito a execução e a coordenação das ações públicas,
desenvolvidas tanto pelo Estado como por organizações da sociedade civil. Com
esse fim, essas ações serão pautadas por uma lógica que vise uma relação
harmoniosa e sinérgica em suas realizações. A gestão da política pública e as
restrições materiais são realidades que dimensionam os limites dessa atuação.
De tal modo que é necessário compreender a diversidade de instituições, bem
como os recursos materiais para seu cumprimento.
As instâncias
decisórias, imbuídas de tal desafio, farão de suas ações momentos para a
compreensão dessas diferentes dimensões, já que criam condições de intercâmbio
com outras formas de visão sobre o tema e decidem sobre as realidades materiais
de execução das políticas públicas.
O desafio dos
conselhos de políticas públicas está em ser um sistema diverso dos componentes
que o formam. Um dos mecanismos possíveis para enfrentar tal desafio é a
manutenção de uma constante interação com o seu meio ambiente. Portanto, a
heterogeneidade interna, bem como a abertura para o intercâmbio são elementos
que contribuem para a inovação no ambiente participativo dos Conselhos.
Entretanto, a
consolidação desses mecanismos de participação da sociedade na gestão pública
reproduziu o padrão de fragmentação e setorização das políticas públicas brasileiras vigente até
então. Esse fato é um dificultador para a articulação entre os diferentes
setores de atuação do Estado, bem como para a compreensão do foco de atuação de
cada política pública. O modus operandis das políticas públicas no
Brasil é feito de forma fragmentada e, por vezes, contraditória. A quebra desse
paradigma requer não só vontade política, mas também desenvolvimento técnico e
capacidade operacional para o seu enfretamento e sua realização. Em outras
palavras, a construção de governança que responda a esse desafio ainda é uma
pauta a ser enfrentada no Brasil.
Essa baixa
articulação entre as diversas políticas públicas, como também entre as
diferentes esferas de governo (federal, estadual e municipal), se reflete nas
instâncias de controle social. Foram criados diversos conselhos (criança e
adolescente, idosos, pessoa com deficiência, mulheres, juventude etc.) que
discutem e pautam as políticas públicas e são transversais a elas. Observam-se,
por sua vez, sobreposições de pautas, agendas e representação nesses espaços
participativos. Isso coloca em xeque a efetividade dos espaços, já que suas
decisões não são apropriadas pelas instâncias executoras. Mais de um Conselho
pode deliberar sobre os mesmos objetos, pois na implementação das deliberações
não são encontradas tensões e contradições entre os agentes operadores da
política.
Além dessa
dimensão técnica, necessária para a integração das políticas públicas, é
imperativo que as instâncias decisórias percebam que os conteúdos analisados
perpassam mais de um campo de conhecimento. Assim, a concepção de integralidade
desafia essas instâncias desde o momento da apreensão dos problemas e da
construção do interesse público, pois exige uma articulação entre diferentes
saberes. A crença na democracia participativa partia desse pressuposto no
intuito de trazer para a realidade decisória, além dos conhecedores dos temas,
os beneficiários e usuários da política pública. A quebra do padrão autoritário
de definição da política pública, citada no início, tem aqui o seu maior valor,
já que as políticas públicas não serão monopólio de técnicos da administração
pública.
Buscando como
referencial o conceito de integralidade, o eixo de interface investiga a
relação de Conselhos com outras instituições do Estado brasileiro.
Problematiza, por exemplo, sua relação com outros conselhos e com conferências.
Porém, mais do que isso, investiga quais são as interfaces que existem para a
compreensão da temática, bem como as experiências concretas em que se criou
articulação e sinergia.
Com o intuito
de investigar essas dimensões, abordamos as seguintes questões:
1. Há pautas do seu conselho que
coincidem com outros conselhos? Quais são os Conselhos e como esse tema foi
tratado?
2. Existiram experiências de
articulação entre o conselho que você faz parte e outros? Qual a sua avaliação
sobre elas?
3. Você observa que há conflitos
de legislação, resoluções ou entre deliberações de conselhos?
4. Quais os ministérios mais
atuantes no Conselho? Como essa atuação contribui para a articulação entre as
políticas?
5. Pensando sobre as
conferências, como foi a atuação do Conselho no acompanhamento dos resultados
das conferências (deliberações)?
Tem interesse no texto deixe um comentário com o seu email.
Oi, tenho sim um grande interesse, mas gostaria de receber o texto integral com todos os tópicos postados neste link ou se puder, por favor, obrigada.
ResponderExcluirMarli, qual seu email? Abraços, Anderson
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